quarta-feira, 11 de março de 2009

Dizer eu te amo...

Achei esse texto no blog Segundaaexta.com.br. Lembrei de um fato ocorrido há alguns anos, quando uma amiga morreu em um acidente de trânsito. Ela tinha cabado de sair de casa. quando o marido a viu morta, disse: "me perdoa, quantas vezes eu deixei de te dizer eu te amo e hoje voce saiu e nem um beijo te dei." Por isso, eu sempre me repito dizendo eu te amo para as pessoas de quem realmente gosto. è confortante para a pessoas saberem que são amadas, elas se sentem mais leves, mais alegres, com mais força. Faz bem a alma e ao coração.

As palavras
por: Aline Leal



Por amor, enfrentava o verão carioca que o fazia perder a vontade de viver; por amor, era secretário em um escritório de advocacia; por amor, matriculara-se em um cursinho de português em Londres e, finalmente, viera ao encontro de Rita. John não poderia ser acusado de ter um coração frio, tal qual imputam aos ingleses. Se é fato que a cidade do Rio de Janeiro não lhe despertava nenhuma emoção, ao contrário, irritava a sua forma mais íntima de ser, a vida aqui fazia sentido por causa do amor.

John conhecia o amor carnal, em que se iniciara com 15 anos, e o amor sentimental, que experimentara com Rita, mas não todo o amor da vida dos cariocas. Não conhecia o amor que a ascensorista do elevador lhe dispensava: qual o andar, meu amor? Não se acostumava a esta relação e, por isso, desceu muitas vezes de escada.

Se em Londres as pessoas cuidavam para não exagerar nas demonstrações, os cariocas quase se forçavam a serem expansivos e sentimentais. Rita, no entanto, nunca lhe dissera que o amava, uma vez disse somente assim: você faz o meu coração derreter, e isso para ele foi melhor que o amor.

John tampouco havia declarado o amor por Rita em palavras, aliás nunca na vida dissera eu te amo a alguém: à mãe, à avó ou ao time de futebol. Até então isso não lhe fazia falta, mas agora John se perguntava se Rita sentia essa ausência. Só que o Rio de Janeiro lhe trazia questões e não inspiração.

Se era alguém desacostumado a enxergar sentimento, a overdose de expressões relacionadas ao amor, à paixão e afins lhe trazia desconforto e azia, como se pressionado a posicionar-se. Se custou pouco abandonar o que tinha em Londres por causa de Rita, quanto custava para teorizar um sentimento que era uma prática? Faziam sexo, dormiam abraçados e John comprava o anticoncepcional, preparava as torradas do café da manhã. Por amor, diria alguém da cidade para a qual se mudara, por amor; por amor; por amor.

Por amor à Rita trabalhava de terno e gravata em pleno verão carioca; por amor suportava um trabalho de atender a telefonemas e anotar recados e fazer e servir o café. Mas não diria eu te amo, não nesta cidade que ao contrário de lhe inspirar, lhe causava repulsa à expressão deste sentimento. Talvez um dia, talvez em outro lugar, se fosse necessário dizer tais palavras, as diria sem senti-las, somente por amor à Rita.

No quarto andar do edifício da Avenida Central, a mando do chefe discou para a administradora do prédio, a quem o Sr. Eustáquio devia meses e meses de aluguel e ia dar a notícia de que finalmente conseguira o dinheiro para pagar a dívida. Eustáquio pegou e telefone e disse “Gostaria de falar com a senhora Renha, por favor, diga que é o amor da vida dela”.

Nenhum comentário: