Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura.
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos.
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito.
Essa gagueira infantil de quem quer
exprimir o inexprimível.
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte.
Essa curiosidade pelo momento a vir, quando,
apressada, ela virá me entreabir a porta
como uma velha amante
mas recuará em véus ao ver-me junto ao bem amado...
Resta esse constante esforço
para caminhar dentro do labirinto.
Esse eterno levantar-se depois de cada queda.
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha.
Resta essa terrível coragem diante do grande medo,
e esse medo infantil de ter pequenas coragens.
Vinícius de Moraes
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