"quem me dera encontrar o verso puro,
o verso altivo e forte, estranho e duro,
que disesse a chorar isto que sinto."
(Florbela Espanca)
Humildade · { Poemas, Trocando Olhares }
Toda a terra que pisas, eu q’ria, ajoelhada,
Beijar terna e humilde em lânguido fervor;
Q’ria poisar fervente a boca apaixonada
Em cada passo teu, ó meu bendito amor!
De cada beijo meu, havia de nascer
Uma sangrenta flor! Ébria de luz, ardente!
No colo purpurino havia de trazer
Desfeito no perfume o mist’rioso Oriente!
Q’ria depois colher essas flores reais,
Essas flores de sonho, estranhas, sensuais,
E lançar-tas aos pés em perfumados molhos.
Bem paga ficaria, ó meu cruel amante!
Se, sobre elas, eu visse apenas um instante
Cair como um orvalho os teus divinos olhos!
Fanatismo · { Livro de Soror Saudade, Poemas }
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”
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