quarta-feira, 16 de julho de 2008

Fenando Pessoa


Dói-me quem sou.

E em meio da emoção
Ergue a fronte de torre um pensamento
É como se na imensa solidão

De uma alma a sós consigo,o coração
Tivesse cérebro e conhecimento

Numa amargura artificial consisto,
Fiel a qualquer idéia que não sei,
Como um fingido cortesão me visto
Dos trajes majestosos em que existo
Para a presença artificial do rei.

Sim
Tudo é sonhar

quanto sou e quero.
Tudo das mãos caídas se deixou.
Braços dispersos, desolado espero.
Mendigo pelo fim do desespero,
Que quis pedir esmola e não ousou.

Fernando Pessoa muito lúcido, nos fala do medo de amar e do conflito de estar só.

POEMA DO AMIGO APRENDIZ


Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu possa.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.

Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.

Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso:
é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias…

Fernando Pessoa

Retirado do blog: princecristal.blogspot.com

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