CRÔNICA
Paixão ao primeiro chat
Histórias de namoros, encontros
e desencontros pela internet
Walcyr Carrasco
Começou como curiosidade. Mas o namoro pela internet vem crescendo. Tenho uma amiga quarentona decidida a se casar outra vez. Carrega uma cruz, a coitada. Basta se apaixonar para descobrir que o sujeito está desempregado e tem dívidas. No segundo encontro já é obrigada a se responsabilizar pela porção de fritas e pela cerveja. O primeiro pretendente foi um senhor do Rio de Janeiro. Telefonava todos os dias para despertá-la e dar boa-noite. Ela cantava como uma cotovia. Um dia, ela me ligou arrasada:
– A conta do meu celular deu mais de 1.000 reais!
– Como? Não era ele quem ligava?
Abaixou a voz, sofrida.
– Era sempre a cobrar...
Foi ao Rio para conhecê-lo. Levou chá-de-sumiço. Nunca viu sequer uma foto do dito-cujo. Hoje suspeita ter sido algum residente de uma cela de segurança máxima, divertindo-se no celular. Foi-se encontrar com outro. O sujeito estava engessado dos pés à cabeça. Desempregado, é claro.
– Quero alguém que fique a meu lado nos piores momentos – confessou ele, romanticamente.
Haja pior momento! Apesar do sentimento de culpa, desistiu. Finalmente, anunciou:
– Vou passar o fim de semana na praia.
Arrisquei:
– Já se viram?
– Ainda não, mas vai dar certo, não se preocupe.
Bateu o telefone antes que eu desse algum conselho. Voltou destruída. O sujeito, um médico aposentado, era um cavalheiro. Ofereceu-lhe um quarto separado, para que não se sentisse pressionada. Levou-a a excelentes restaurantes. Tinha propriedades. Ela suspirou:
– Seria o marido ideal. Mas é dentuço.
– Você queria encontrar um homem elegante, bem de vida, gentil e com os dentes do Reynaldo Gianecchini?
Continua à procura de alguém que a atormente.
Um amigo conheceu três garotas ao mesmo tempo. Apaixonou-se por todas. O problema: uma é vegetariana. A outra só come carne. A terceira adora pagode e as outras duas odeiam. Cada uma acredita que encontrou o homem de sua vida. Fraco de memória, ele se confunde. Bota pagode para a que só gosta de música clássica. Oferece bife à vegetariana. Qualquer dia desses leva uma surra das três. É questão de tempo!
Uma cinqüentona conheceu um senhor. Amor ao primeiro chat! Foram juntos a uma praia distante. Acordou na manhã seguinte, feliz da vida. Saltitou até o príncipe encantado, deitado na areia.
– Você dormiu bem, querido?
– Nem consegui fechar o olho. Você ronca demais – ele respondeu, furioso. – Que inferno!
Nem Cinderela perdendo o sapatinho ficou tão acabada. Correu a fazer a mala. Não havia ônibus. Nem carro. Passou o fim de semana com o sujeito esbravejando, evitando dormir para não roncar.
Um amigo descobriu uma garota linda. Encontraram-se na praça de alimentação de um shopping. Dias depois foram tomar um drinque, com vistas a uma noite longa. A moça bebia e olhava para os lados, apavorada.
– Meu ex está do outro lado da rua.
– Mas é ex... ex, de verdade?
– Vive me perseguindo. Se eu me interesso por alguém, ele vem em cima, chama para briga, quer matar!
– Ahn?
Levantou-se. Foi ao banheiro. Olhou-se no espelho. Assumiu.
– Sou covarde.
Fugiu, com a consciência tranqüila.
– Mal conheci a moça e já ia levar uma surra?
Com tantas histórias, é de pensar que amores cibernéticos nunca dão certo. Engano. Certa moça, divorciada, com dois filhos, conheceu um rapaz. Encontraram-se. Era um empresário bonitão, de olhos azuis. Casaram-se. Vivem maravilhosamente. Acompanhei o romance de perto. Contos de fadas ainda podem acontecer.
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