segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Leila Diniz - Uma mulher

Como diz Leila Diniz…
Postado por Luciano Trigo em 24 de Outubro de 2008 às 23:11


Dois livros contam a trajetória da carioca que fez uma revolução de biquini

A quebradora de tabus está de volta. Leila Diniz é personagem de dois perfis biográficos que chegam simultaneamente às livrarias: Leila Diniz – Uma revolução na praia, de Joaquim Ferreira dos Santos e a edição revista e aumentada de Toda mulher é meio Leila Diniz, de Mirian Goldenberg .

Está de volta? Na verdade ela nunca partiu. Morreu precocemente, aos 27 anos, num acidente aéreo, mas continuou viva em geração após geração de meninas que adotaram, mesmo sem saber, as mensagens e os exemplos de Leila Diniz. O fato de hoje a sua rebeldia parecer bem comportada – falar sem pudores sobre sexualidade ou posar grávida de biquíni na praia não escandaliza mais ninguém – é a maior prova de que Leila triunfou. Viver intensamente e gozar da liberdade sexual virou rotina. Separar sexo do amor também. Mais que isso, a felicidade e o prazer viraram quase uma obrigação. Até mesmo na deselegância discreta das adolescentes que rimam desafiar convenções com falar palavrões ela continua presente. Ou na moda de escancarar a vida íntima em público. O que era impactante é hoje banal. Em mais de um sentido, a profecia da letra de Rita Lee se concretizou: hoje qualquer mulher é mesmo Leila Diniz.

O problema era ser Leila Diniz nos anos 60 e 70, em plena vigência da ditadura militar e de um conservadorismo moral sufocante. Nesse sentido seu papel foi realmente revolucionário, pois ela ocupou a vanguarda da emancipação feminina no Brasil, levantando a bandeira da espontaneidade e da alegria contra o machismo mal humorado então reinante. Este papel simbólico-comportamental foi tão importante que quase esquecemos que ela fez muito mais.

Por exemplo, foi atriz. Leila participou da primeira novela da Globo, em 1965, Ilusões perdidas, e também de O sheik de Agadir e Eu compro esta mulher (as novelas de antigamente tinham títulos fortes), além de fazer anúncios da Coca-Cola e de cremes dentais; no cinema, atuou em filmes de Domingos Oliveira (como o clássico Todas as mulheres do mundo, de 1966, e Edu, Coração de Ouro, ambos com Paulo José) e Nelson Pereira dos Santos (Fome de amor); no teatro, contracenou com Cacilda Becker, em O preço de um homem, e foi corista de uma revista de Carlos Machado.

Filha de um dirigente do Partido Comunista, Leila nasceu em Niterói, fez o magistério e dava aulas num jardim da infância de subúrbio quando, aos 17 anos, conheceu o cineasta Domingos de Oliveira numa festa de Natal. Reza a lenda que na mesma noite começou o relacionamento de 3 anos, que ajudaria a abrir caminhos para sua carreira artística.

Mas a celebriidade veio mesmo quando a imprensa começou a publicar entrevistas suas, nas quais não media palavras nem palavrões, principalmente a famosa entrevista do Pasquim, de novembro de1969. “Cada palavrão dito pela rósea boquinha da bela Leila foi substituído por uma estrelinha. É por isso que a entrevista dela até parece a Via Láctea”, explicou o editor. Foi a edição mais vendida de toda a história do jornal. Coincidência ou não, a censura prévia à imprensa foi instituída pela ditadura logo depois da publicação: a lei ficou conhecida como Decreto Leila Diniz.

Leila incomodava. Com o endurecimento da situação política, as oportunidades profissionais começaram a escassear. Acusada de ajudar militantes de esquerda, ela chegou a precisar se esconder no sítio de… Flavio Cavalcanti, apresentador de televisão injustamente acusado de reacionário, cuja vida também merece ser recontada. Em 1971 Leila voltou a se casar, com o cineasta Ruy Guerra. Grávida de oito meses (de Janaína), chocou a família brasileira ao expor o barrigão na praia de Ipanema - e, mais tarde, ao se deixar fotografar amamentando. Sua morte causou verdadeira comoção nacional. Partia mulher, nascia o mito.

FRASES:

“Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo”

“Quebro a cara toda hora, mas só me arrependo do que deixei de fazer por preconceito, problema e neurose”

“Não morreria por nada deste mundo, porque eu gosto realmente é de viver. Nem de amores eu morreria, porque eu gosto mesmo é de viver de amores”

“Eu posso dar para todo mundo, mas não dou para qualquer um”

“Cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco”

“Viver, intensamente, é você chorar, rir, sofrer, participar das coisas, achar a verdade nas coisas que faz. Encontrar em cada gesto da vida o sentido exato para que acredite nele e o sinta intensamente”

“Sempre andei sozinha. Me dou bem comigo mesma”

“Eu trepo de manhã, de tarde e de noite”

“Todos os cafajestes que conheci na vida são uns anjos de pessoas”

“Eu durmo com todo mundo! Todo mundo que quer dormir comigo e todo mundo que eu quero dormir”

“Só quero que o amor seja simples, honesto, sem os tabus e fantasias que as pessoas lhe dão”

“Não sou contra o casamento. Mas, muito mais do que representar ou escrever, ele exige dom”

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