Quando o nada é quase tudo
Postado por Bruno Medina em 26 de Agosto de 2008 às 17:58
Ao longo da história da civilização cientistas e filósofos tentaram sem sucesso defini-lo. Considerando a complexidade de sua natureza, a compreensão do conceito acerca de sua existência demanda uma imensa dose de abstração, visto que, em tese, ele nem existe. Em tempos de super-exposição à informação e do costume de se preencher a rotina com atribulações que não cabem nas horas de um só dia, me parece que este é um conceito fadado à extinção. Tá complicado? Vai piorar.
O nada. Oposição ao ser, entendeu? Não? Segundo um clube que tem conquistado cada vez mais adeptos, melhor do que entende-lo é vive-lo. Portanto não se espante caso num domingo de sol se depare com um enorme cubo branco (símbolo do movimento), cercado por um bando de gente deitada, sem fazer nada. Estes provavelmente são os praticantes do nadismo. Não se trata de doutrina, tampouco de religião. O Clube de Nadismo é tão somente uma organização que se opõe a exarcebação da produtividade e da eficiência que, nas últimas décadas, assumiram ares de vício.
O objetivo é simples: incentivar o costume de haver um momento do dia reservado a fazer coisa alguma. Não confunda com dormir, ler ou assistir TV, fazer nada é fazer nada mesmo, de preferência nem pensar! Talvez alguns de vocês possam até achar que o nadismo seja uma piada, ou algo equivalente a estes textos recheados de frases de auto-ajuda falsamente atribuídos à autores famosos, que se espalham através das insuportáveis correntes de e-mail. Garanto que não é.
O movimento já foi retratado por alguns veículos de imprensa, é só procurar por aí. Existe até um site dedicado ao tema, onde é possível obter dicas sobre como se tornar sócio, bem como as melhores maneiras de se atingir o status quo da prática oficial do não-fazer. Recomendo a visitação, pois praticantes não-iniciados podem encontrar impedimentos que os levem a desistir. Antes de escrever este post tentei fazer nada por alguns minutos. Até consegui parar por completo no meio do dia, no entanto tive especial dificuldade em manter a mente livre de pensamentos; o maior desafio foi afastar a intenção de não fazer nada.
Em seguida não pude deixar de notar como, se bem explorada, a instituição de um movimento como estes pode vir à calhar. Admiro-me, inclusive, do manifesto fundamental ter sido escrito há apenas dois anos, apesar do “fazer nada” ter sempre sido a verdadeira grande meta (mesmo que não se admita) da humanidade. Se bem que, frente aos padrões nadistas, redigir um manifesto soa como um trabalho hercúleo…
Bastaria apenas que algum maluco alegasse que o nadismo é uma religião para que sua prática fosse encarada pela sociedade com seriedade e apreensão. “Fazer nada” durante o horário de trabalho ou de estudo não seria alvo de repressão, devido ao receio de ser confundido com perseguição ideológica. Por motivos óbvios o número de adeptos se espalharia sem controle e, aos poucos, haveria a adesão de algumas celebridades.
Não tardaria para que alguma cura milagrosa fosse relacionada ao nada e, à partir de alguma insistência -uma lista de assinaturas que culminasse na elaboração de um projeto de lei, por exemplo- não seria impensável que em alguns anos se estabelecesse um feriado dedicado a pratica do nadismo. Já pensou? Agora me ocorre uma outra questão: seria para os nadistas Homer Simpson um profeta?
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